"Esquisitices, não"
Levítico 11,12 e 13.
Em Chicago o pastor Bill Leslie dividiu o santuário de maneira que parecesse o templo em Jerusalém.Os gentios podiam ficar na galeria, chamada de Pátio dos Gentios, mas eram excluídos do santuário principal. As mulheres judias podiam entrar no santuário, mas ficavam apenas na região destinada elas. Os leigos judeus tinham uma área espaçosa à frente, mas não podiam aproximar-se da plataforma, reservada apenas para os sacerdotes. A parte de trás da plataforma, onde ficava o altar, Bill separou como o Santíssimo Lugar. "Imaginem uma cortina com uma polegada de espessura neste lugar", ele disse. "Apenas um sacerdote entrava ali uma vez por ano — no dia santo do Yom Kippur. E ele tinha de usar uma corda amarrada ao tornozelo. Se fizesse alguma coisa errada e morresse lá dentro, os outros sacerdotes teriam de puxá-lo pela corda. Eles não se atreviam a entrar no Santíssimo Lugar, onde Deus habitava." Ninguém, nem mesmo a pessoa mais piedosa, pensaria em adentrar o Santíssimo Lugar, pois a penalidade de morte era certa. A própria arquitetura lembrava aos israelitas que Deus era separado. Era santo. Considere o paralelo moderno de uma pessoa que queira enviar uma mensagem ao presidente Lula. Qualquer cidadão pode escrever ao presidente, enviar um telegrama ou um e-mali (sei lá!). Mas, se tal pessoa viajasse até Brasilia, não esperaria obter uma audiência com o presidente. Embora pudesse falar com um secretário, ou até mesmo tivesse a ajuda de um senador, talvez conseguisse apenas marcar uma reunião com um funcionário do gabinete.(mas acredito que no minimo, conseguiria passar na frente do planalto), nenhum cidadão comum pode entrar no Escritório Oval e apresentar um pedido ao presidente. O governo tem uma hierarquia, separando os seus funcionários mais altos de acordo com um protocolo restrito. Semelhantemente, no Antigo Testamento uma escada hierárquica separava o povo de Deus, fundamentada não no prestígio, mas na "pureza" ou "santidade". — parecia um padrão formal de não-graça, um sistema religioso — mas pelo menos os judeus haviam descoberto um lugar para cada grupo como as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os pobres. Outras sociedades os tratavam de maneira pior. Jesus apareceu na terra exatamente quando a Palestina estava experimentando um reavivamento religioso.Os fariseus, por exemplo, ditavam regras precisas para a manutenção da pureza: nunca entrar na casa de um gentio, nunca jantar com pecadores, não trabalhar aos sábados, lavar as mãos sete vezes antes de comer. Assim, quando espalharam-se rumores de que Jesus podia ser o Messias há muito esperado, os judeus piedosos ficaram mais escandalizados do que felizes. Ele não tinha tocado em pessoas impuras, tais como aqueles leprosos? Não tinha permitido que uma mulher de má reputação lavasse seus pés e os enxugasse com os cabelos? Ele jantava com cobradores de impostos — um deles até fazia parte do seu círculo mais íntimo de discípulos — e era claro que não cumpria as regras da purificação ritual e a guarda do sábado.
Além disso, Jesus deliberadamente entrava em território gentio e se envolvia com gentios. Ele elogiou um centurião romano por ter mais fé do que qualquer um em Israel e se ofereceu para entrar na casa do centurião para curar seu servo. Ele curou um samaritano mestiço da lepra e teve uma longa conversa com uma mulher samaritana — para consternação dos discípulos, que sabiam que "os judeus não se relacionavam com os samaritanos". Essa mulher, rejeitada pelos judeus por causa de sua raça, rejeitada pelos vizinhos por causa de seus muitos casamentos, veio a ser a primeira "missionária" designada por Jesus e a primeira pessoa a quem Ele francamente revelou sua identidade como Messias. A partir de então, Jesus culminou o seu período no mundo dando aos seus discípulos a "Grande Comissão", uma ordem de levar o evangelho aos gentios impuros "em toda a Judéia9 e Samaria, e até os confins da terra".
A aproximação de Jesus das pessoas "impuras" consternava seus compatriotas e, finalmente, ajudou a crucificá-lo. Em essência, Jesus cancelou o grande princípio do Antigo Testamento "Esquisitices, não", substituindo-o por uma nova regra da graça: "Todos nós somos esquisitos, mas Deus nos ama mesmo assim".
Os evangelhos registram apenas uma ocasião em que Jesus fora obrigado a recorrer à violência: na purificação do templo. Brandindo um chicote de couro, Ele derrubou as mesas e as bancas e expulsou os mercadores que se haviam estabelecido ali. Como já disse, a própria arquitetura do templo expressava a hierarquia entre os judeus: os gentios podiam entrar apenas no pátio externo. Jesus não gostou disso eles tornaram aquele lugar em uma atmosfera que dificilmente conduzia à adoração. Marcos registra que, depois de Jesus haver purificado o templo, os sumos sacerdotes e mestres da lei "buscavam ocasião para matá-lo". No sentido real, Jesus selou o seu destino com sua insistência irada no direito dos gentios de se aproximar de Deus.Degrau por degrau, Jesus desmantelou a escada da hierarquia que marcava a aproximação de Deus. Convidou pessoas defeituosas, pecadores, estrangeiros e gentios — os impuros! — para a mesa do banquete divino.
Todos nós somos esquisitos, mas Deus nos ama mesmo assim.
Em seus contatos sociais, Jesus acabou também com as categorias judias de "puros" e "impuros". O texto de Lucas 8, por exemplo, registra três incidentes em rápida sucessão que, juntos, devem ter confirmado as idéias erradas que os fariseus tinham a respeito de Jesus. Primeiro, Jesus navegou para uma região habitada por gentios, curou um louco nu e designou-o como missionário em sua cidade natal. Depois, Jesus foi tocado por uma mulher com hemorragia há doze anos, um "problema feminino" que a desqualificava aos cultos e, sem dúvida nenhuma, provocava-lhe muita vergonha. (Os fariseus ensinavam que essas enfermidades aconteciam por causa de um pecado pessoal; Jesus os contradisse diretamente.) Dali, Jesus seguiu para a casa de um chefe de sinagoga cuja filha havia acabado de morrer. Já "impuro" por causa do louco gentio e da mulher hemorrágica, Jesus entrou no quarto e tocou no cadáver.
As leis levíticas advertiam contra o contágio: contatos com doentes, gentios, cadáveres, certos tipos de animais ou até mesmo mofo e bolor podiam contaminar uma pessoa. Jesus inverteu o processo: em vez de ficar contaminado, tornou a outra pessoa sadia. O louco nu não contaminou Jesus; foi curado. A pobre mulher com o fluxo de sangue não envergonhou Jesus nem o tornou impuro; ela se afastou sadia. A menina morta de doze anos de idade não contaminou Jesus; foi ressuscitada.
Vejo no método de Jesus um cumprimento, e não uma abolição das leis do Antigo Testamento. Deus tinha "santificado" a criação separando o sagrado do profano, o puro do impuro. Jesus não cancelou o princípio santificador; antes, mudou sua fonte. Nós mesmos podemos ser agentes da santidade de Deus, pois Ele habita em nós. No meio de um mundo impuro podemos passear, como Jesus, buscando meios de ser uma fonte de santidade. Os doentes e os aleijados para nós não são avisos vermelhos de contaminação, mas receptores em potencial da misericórdia divina. Somos chamados para estender essa misericórdia, para ser transmissores da graça, e não para evitar o contágio. Assim como Jesus, podemos ajudar o "impuro" a se tornar limpo!
No mesmo culto em que Bill Leslie dividiu o santuário nas proporções aproximadas do templo judeu, membros da congregação apresentaram uma peça. Diversos requerentes se aproximaram da plataforma para transmitir uma mensagem ao sacerdote — com as mulheres, naturalmente, dependendo de seus representantes masculinos. Alguns trouxeram sacrifícios para o sacerdote apresentar a Deus. Outros fizeram pedidos específicos: "O senhor poderia falar com Deus a respeito do meu problema?", eles perguntavam. Toda vez que o "sacerdote" subia à plataforma, passava por um ritual prescrito e submetia o pedido a Deus dentro do Santíssimo Lugar. Subitamente, no meio dessa cerimônia, uma jovem mulher veio correndo pelo corredor, ignorando os limites estabelecidos para o seu gênero, com uma Bíblia aberta no livro de Hebreus. "Olhem, cada um de nós pode falar com Deus diretamente!", ela proclamou. "Ouçam isto."
Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, o Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão... Cheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça. "E aqui novamente", tendo ousadia para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração...Hebreus 10:19 ao 22.
"Qualquer um de nós pode entrar no Santíssimo Lugar!", ela disse antes de sair do recinto. "Qualquer um de nós pode ir diretamente a Deus!"
O poder aproximar-se de Deus. Enquanto os crentes do Antigo Testamento se purificavam antes de entrar no templo e apresentavam suas ofertas a Deus por meio de um sacerdote, em Atos os discípulos de Deus (bons judeus, a maioria deles) estavam reunindo-se em casas particulares e dirigindo-se a Deus com o termo informal Aba . Era um termo afetivo usado em família, como "papai", e antes de Jesus ninguém pensaria em aplicar essa palavra a Yahweh, o Soberano Senhor do Universo. Depois dele, tornou-se a palavra padrão utilizada pelos cristãos primitivos para dirigir-se a Deus em oração.
Antes, tracei um paralelo com um visitante ao Presidente Lula. Nenhum visitante, eu disse, poderia esperar adentrar o Escritório Oval para ver o Presidente sem hora marcada.
Há exceções.Durante a administração de John F. Kennedy, os fotógrafos, às vezes, captavam cenas encantadoras. Sentados junto à mesa presidencial em ternos de cor cinza, os membros do gabinete debatiam questões de conseqüências mundiais, tais como a crise de mísseis cubanos. Enquanto isso, uma criança de dois anos de idade, John-John, subia sobre a imensa mesa presidencial, ignorando o protocolo da Casa Branca e os importantes assuntos de Estado. John-John estava simplesmente visitando o seu papai e, às vezes, para deleite deste, invadia o Escritório Oval sem bater à porta.
Esse é o tipo de acessibilidade chocante transmitida pela palavra de Jesus, Abba. Deus pode ser o soberano Senhor do Universo, mas, por meio de seu Filho, tornou-se tão acessível quanto qualquer pai humano "coruja". Em Romanos 8, Paulo traz a imagem da intimidade ainda mais perto. O Espírito de Deus vive dentro de nós, ele diz, e quando não sabemos como que devemos orar, "o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis". Não precisamos aproximar-nos de Deus por meio de uma escada hierárquica, ansiosos a respeito de questões de pureza. Se o reino de Deus tivesse uma advertência "Esquisitices, não", nenhum de nós poderia entrar. Jesus veio para demonstrar que um Deus perfeito e santo dá boas-vindas aos pedidos de ajuda de uma viúva com dois óbolos, de um centurião romano, de um miserável publicano e de um ladrão na cruz. Temos apenas de chamar "Aba", ou, falhando nisso, simplesmente gemer. Deus se aproximou de nós desse jeito.
A maneira pela qual a revolução de Jesus me afeta centraliza-se em como devemos olhar para as pessoas "diferentes". O exemplo de Jesus me convence hoje porque sinto uma guinada sutil na direção inversa. Conforme a sociedade se desenvolve e a imoralidade aumenta, ouço alguns cristãos clamando que precisamos demonstrar menos misericórdia e mais moralidade, clamores que retrocedem ao estilo do Antigo Testamento.
Sinto profunda preocupação com a nossa sociedade. Estou tocada, entretanto, pelo poder alternativo da misericórdia demonstrada por Jesus, que veio para os doentes e não para os sãos, para os pecadores e não para os justos. Jesus nunca aprovou o mal, mas estava pronto a perdoá-lo. De alguma forma, Ele ganhou a reputação de ser amigo dos pecadores, uma reputação que seus discípulos correm o risco de perder. Como diz Dorothy Day: "Eu realmente só amo a Deus na proporção em que amo a pessoa que menos amo".
São questões difíceis, eu confesso, mas por causa disso EU AMO A DEUS!
Contudo, há uma idéia de que a religião divide o povo, hoje enxerguei o oposto: o amor de Deus nos uniu.
Texto: Maravilhosa Graça – Adaptado.
Fernanda Lima
05-02-2009.
Levítico 11,12 e 13.
Em Chicago o pastor Bill Leslie dividiu o santuário de maneira que parecesse o templo em Jerusalém.Os gentios podiam ficar na galeria, chamada de Pátio dos Gentios, mas eram excluídos do santuário principal. As mulheres judias podiam entrar no santuário, mas ficavam apenas na região destinada elas. Os leigos judeus tinham uma área espaçosa à frente, mas não podiam aproximar-se da plataforma, reservada apenas para os sacerdotes. A parte de trás da plataforma, onde ficava o altar, Bill separou como o Santíssimo Lugar. "Imaginem uma cortina com uma polegada de espessura neste lugar", ele disse. "Apenas um sacerdote entrava ali uma vez por ano — no dia santo do Yom Kippur. E ele tinha de usar uma corda amarrada ao tornozelo. Se fizesse alguma coisa errada e morresse lá dentro, os outros sacerdotes teriam de puxá-lo pela corda. Eles não se atreviam a entrar no Santíssimo Lugar, onde Deus habitava." Ninguém, nem mesmo a pessoa mais piedosa, pensaria em adentrar o Santíssimo Lugar, pois a penalidade de morte era certa. A própria arquitetura lembrava aos israelitas que Deus era separado. Era santo. Considere o paralelo moderno de uma pessoa que queira enviar uma mensagem ao presidente Lula. Qualquer cidadão pode escrever ao presidente, enviar um telegrama ou um e-mali (sei lá!). Mas, se tal pessoa viajasse até Brasilia, não esperaria obter uma audiência com o presidente. Embora pudesse falar com um secretário, ou até mesmo tivesse a ajuda de um senador, talvez conseguisse apenas marcar uma reunião com um funcionário do gabinete.(mas acredito que no minimo, conseguiria passar na frente do planalto), nenhum cidadão comum pode entrar no Escritório Oval e apresentar um pedido ao presidente. O governo tem uma hierarquia, separando os seus funcionários mais altos de acordo com um protocolo restrito. Semelhantemente, no Antigo Testamento uma escada hierárquica separava o povo de Deus, fundamentada não no prestígio, mas na "pureza" ou "santidade". — parecia um padrão formal de não-graça, um sistema religioso — mas pelo menos os judeus haviam descoberto um lugar para cada grupo como as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os pobres. Outras sociedades os tratavam de maneira pior. Jesus apareceu na terra exatamente quando a Palestina estava experimentando um reavivamento religioso.Os fariseus, por exemplo, ditavam regras precisas para a manutenção da pureza: nunca entrar na casa de um gentio, nunca jantar com pecadores, não trabalhar aos sábados, lavar as mãos sete vezes antes de comer. Assim, quando espalharam-se rumores de que Jesus podia ser o Messias há muito esperado, os judeus piedosos ficaram mais escandalizados do que felizes. Ele não tinha tocado em pessoas impuras, tais como aqueles leprosos? Não tinha permitido que uma mulher de má reputação lavasse seus pés e os enxugasse com os cabelos? Ele jantava com cobradores de impostos — um deles até fazia parte do seu círculo mais íntimo de discípulos — e era claro que não cumpria as regras da purificação ritual e a guarda do sábado.
Além disso, Jesus deliberadamente entrava em território gentio e se envolvia com gentios. Ele elogiou um centurião romano por ter mais fé do que qualquer um em Israel e se ofereceu para entrar na casa do centurião para curar seu servo. Ele curou um samaritano mestiço da lepra e teve uma longa conversa com uma mulher samaritana — para consternação dos discípulos, que sabiam que "os judeus não se relacionavam com os samaritanos". Essa mulher, rejeitada pelos judeus por causa de sua raça, rejeitada pelos vizinhos por causa de seus muitos casamentos, veio a ser a primeira "missionária" designada por Jesus e a primeira pessoa a quem Ele francamente revelou sua identidade como Messias. A partir de então, Jesus culminou o seu período no mundo dando aos seus discípulos a "Grande Comissão", uma ordem de levar o evangelho aos gentios impuros "em toda a Judéia9 e Samaria, e até os confins da terra".
A aproximação de Jesus das pessoas "impuras" consternava seus compatriotas e, finalmente, ajudou a crucificá-lo. Em essência, Jesus cancelou o grande princípio do Antigo Testamento "Esquisitices, não", substituindo-o por uma nova regra da graça: "Todos nós somos esquisitos, mas Deus nos ama mesmo assim".
Os evangelhos registram apenas uma ocasião em que Jesus fora obrigado a recorrer à violência: na purificação do templo. Brandindo um chicote de couro, Ele derrubou as mesas e as bancas e expulsou os mercadores que se haviam estabelecido ali. Como já disse, a própria arquitetura do templo expressava a hierarquia entre os judeus: os gentios podiam entrar apenas no pátio externo. Jesus não gostou disso eles tornaram aquele lugar em uma atmosfera que dificilmente conduzia à adoração. Marcos registra que, depois de Jesus haver purificado o templo, os sumos sacerdotes e mestres da lei "buscavam ocasião para matá-lo". No sentido real, Jesus selou o seu destino com sua insistência irada no direito dos gentios de se aproximar de Deus.Degrau por degrau, Jesus desmantelou a escada da hierarquia que marcava a aproximação de Deus. Convidou pessoas defeituosas, pecadores, estrangeiros e gentios — os impuros! — para a mesa do banquete divino.
Todos nós somos esquisitos, mas Deus nos ama mesmo assim.
Em seus contatos sociais, Jesus acabou também com as categorias judias de "puros" e "impuros". O texto de Lucas 8, por exemplo, registra três incidentes em rápida sucessão que, juntos, devem ter confirmado as idéias erradas que os fariseus tinham a respeito de Jesus. Primeiro, Jesus navegou para uma região habitada por gentios, curou um louco nu e designou-o como missionário em sua cidade natal. Depois, Jesus foi tocado por uma mulher com hemorragia há doze anos, um "problema feminino" que a desqualificava aos cultos e, sem dúvida nenhuma, provocava-lhe muita vergonha. (Os fariseus ensinavam que essas enfermidades aconteciam por causa de um pecado pessoal; Jesus os contradisse diretamente.) Dali, Jesus seguiu para a casa de um chefe de sinagoga cuja filha havia acabado de morrer. Já "impuro" por causa do louco gentio e da mulher hemorrágica, Jesus entrou no quarto e tocou no cadáver.
As leis levíticas advertiam contra o contágio: contatos com doentes, gentios, cadáveres, certos tipos de animais ou até mesmo mofo e bolor podiam contaminar uma pessoa. Jesus inverteu o processo: em vez de ficar contaminado, tornou a outra pessoa sadia. O louco nu não contaminou Jesus; foi curado. A pobre mulher com o fluxo de sangue não envergonhou Jesus nem o tornou impuro; ela se afastou sadia. A menina morta de doze anos de idade não contaminou Jesus; foi ressuscitada.
Vejo no método de Jesus um cumprimento, e não uma abolição das leis do Antigo Testamento. Deus tinha "santificado" a criação separando o sagrado do profano, o puro do impuro. Jesus não cancelou o princípio santificador; antes, mudou sua fonte. Nós mesmos podemos ser agentes da santidade de Deus, pois Ele habita em nós. No meio de um mundo impuro podemos passear, como Jesus, buscando meios de ser uma fonte de santidade. Os doentes e os aleijados para nós não são avisos vermelhos de contaminação, mas receptores em potencial da misericórdia divina. Somos chamados para estender essa misericórdia, para ser transmissores da graça, e não para evitar o contágio. Assim como Jesus, podemos ajudar o "impuro" a se tornar limpo!
No mesmo culto em que Bill Leslie dividiu o santuário nas proporções aproximadas do templo judeu, membros da congregação apresentaram uma peça. Diversos requerentes se aproximaram da plataforma para transmitir uma mensagem ao sacerdote — com as mulheres, naturalmente, dependendo de seus representantes masculinos. Alguns trouxeram sacrifícios para o sacerdote apresentar a Deus. Outros fizeram pedidos específicos: "O senhor poderia falar com Deus a respeito do meu problema?", eles perguntavam. Toda vez que o "sacerdote" subia à plataforma, passava por um ritual prescrito e submetia o pedido a Deus dentro do Santíssimo Lugar. Subitamente, no meio dessa cerimônia, uma jovem mulher veio correndo pelo corredor, ignorando os limites estabelecidos para o seu gênero, com uma Bíblia aberta no livro de Hebreus. "Olhem, cada um de nós pode falar com Deus diretamente!", ela proclamou. "Ouçam isto."
Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, o Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão... Cheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça. "E aqui novamente", tendo ousadia para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração...Hebreus 10:19 ao 22.
"Qualquer um de nós pode entrar no Santíssimo Lugar!", ela disse antes de sair do recinto. "Qualquer um de nós pode ir diretamente a Deus!"
O poder aproximar-se de Deus. Enquanto os crentes do Antigo Testamento se purificavam antes de entrar no templo e apresentavam suas ofertas a Deus por meio de um sacerdote, em Atos os discípulos de Deus (bons judeus, a maioria deles) estavam reunindo-se em casas particulares e dirigindo-se a Deus com o termo informal Aba . Era um termo afetivo usado em família, como "papai", e antes de Jesus ninguém pensaria em aplicar essa palavra a Yahweh, o Soberano Senhor do Universo. Depois dele, tornou-se a palavra padrão utilizada pelos cristãos primitivos para dirigir-se a Deus em oração.
Antes, tracei um paralelo com um visitante ao Presidente Lula. Nenhum visitante, eu disse, poderia esperar adentrar o Escritório Oval para ver o Presidente sem hora marcada.
Há exceções.Durante a administração de John F. Kennedy, os fotógrafos, às vezes, captavam cenas encantadoras. Sentados junto à mesa presidencial em ternos de cor cinza, os membros do gabinete debatiam questões de conseqüências mundiais, tais como a crise de mísseis cubanos. Enquanto isso, uma criança de dois anos de idade, John-John, subia sobre a imensa mesa presidencial, ignorando o protocolo da Casa Branca e os importantes assuntos de Estado. John-John estava simplesmente visitando o seu papai e, às vezes, para deleite deste, invadia o Escritório Oval sem bater à porta.
Esse é o tipo de acessibilidade chocante transmitida pela palavra de Jesus, Abba. Deus pode ser o soberano Senhor do Universo, mas, por meio de seu Filho, tornou-se tão acessível quanto qualquer pai humano "coruja". Em Romanos 8, Paulo traz a imagem da intimidade ainda mais perto. O Espírito de Deus vive dentro de nós, ele diz, e quando não sabemos como que devemos orar, "o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis". Não precisamos aproximar-nos de Deus por meio de uma escada hierárquica, ansiosos a respeito de questões de pureza. Se o reino de Deus tivesse uma advertência "Esquisitices, não", nenhum de nós poderia entrar. Jesus veio para demonstrar que um Deus perfeito e santo dá boas-vindas aos pedidos de ajuda de uma viúva com dois óbolos, de um centurião romano, de um miserável publicano e de um ladrão na cruz. Temos apenas de chamar "Aba", ou, falhando nisso, simplesmente gemer. Deus se aproximou de nós desse jeito.
A maneira pela qual a revolução de Jesus me afeta centraliza-se em como devemos olhar para as pessoas "diferentes". O exemplo de Jesus me convence hoje porque sinto uma guinada sutil na direção inversa. Conforme a sociedade se desenvolve e a imoralidade aumenta, ouço alguns cristãos clamando que precisamos demonstrar menos misericórdia e mais moralidade, clamores que retrocedem ao estilo do Antigo Testamento.
Sinto profunda preocupação com a nossa sociedade. Estou tocada, entretanto, pelo poder alternativo da misericórdia demonstrada por Jesus, que veio para os doentes e não para os sãos, para os pecadores e não para os justos. Jesus nunca aprovou o mal, mas estava pronto a perdoá-lo. De alguma forma, Ele ganhou a reputação de ser amigo dos pecadores, uma reputação que seus discípulos correm o risco de perder. Como diz Dorothy Day: "Eu realmente só amo a Deus na proporção em que amo a pessoa que menos amo".
São questões difíceis, eu confesso, mas por causa disso EU AMO A DEUS!
Contudo, há uma idéia de que a religião divide o povo, hoje enxerguei o oposto: o amor de Deus nos uniu.
Texto: Maravilhosa Graça – Adaptado.
Fernanda Lima
05-02-2009.
0 comentários:
Postar um comentário